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24/07/09

E agora vou de férias...



Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

21/07/09

O Sono do Bebé




O SONO DO JOÃO


O João dorme...(Ó Maria,

Diz àquela cotovia

Que fale mais devagar:

Não vá o João acordar...)


Tem só um palmo de altura

E nem meio de largura:

Para o amigo orangotango

O João seria... um morango!

Podia engoli-lo um leão

Quando nasce! As pombas são

Um poucochinho maiores...

Mas os astros são menores!


O João dorme... Que regalo!

Deixá-lo dormir, deixá-lo!

Calai-vos, águas do moinho!

Ó Mar! fala mais baixinho...

E tu, Mãe! e tu, Maria!

Pede àquele cotovia

Que fale mais devagar:

Não vá o João acordar...


O João dorme, o Inocente!

Dorme, dorme eternamente,

Teu calmo sono profundo!

Não acordes para o Mundo,

Pode levar-te a maré:

Tu mal sabes o que isto é...


Ó Mãe! canta-lhe a canção,

Os versos do teu Irmão:

"Na vida que a Dor povoa,

Há só uma coisa boa,

Que é dormir, dormir, dormir...

Tudo vai sem se sentir."


Deixa-o dormir, até ser

Um velhinho... até morrer!


E tu vê-lo-ás crescendo

A teu lado (estou-o vendo

João! que rapaz tão lindo!)

Mas sempre sempre dormindo...


Depois, um dia virá

Que (dormindo)

passará do berço, onde agora dorme,

Para outro, grande, enorme:

E as pombas que eram maiores

Que João... ficarão menores!


Mas para isso, ó Maria!

Diz àquela cotovia

Que fale mais devagar:

Não vá o João acordar...


E os anos irão passando.


Depois, já velhinho, quando

(Serás velhinha também)

Perder a cor que, hoje, tem,

Perder as cores vermelhas

E for cheinho de engelhas,

Morrerá sem o sentir,

Isto é, deixa de dormir:

Acorda e regressa ao seio

De Deus, que é d'onde ele veio...


Mas para isso, ó Maria!

Pede àquela cotovia

Que fale mais devagar:


Não vá o João acordar...


António Nobre

20/07/09



À Luz da Lua!


Íamos sós pela floresta amiga,

Onde em perfumes o luar se evola,

Olhando os céus, modesta rapariga!

Como as crianças ao sair da escola.


Em teus olhos dormentes de fadiga,

Meio cerrados como o olhar da rola,

Eu ia lendo essa balada antiga

D'uns noivos mortos ao cingir da estola...


A Lua-a-Branca, que é tua avozinha,

Cobria com os seus os teus cabelos

E dava-te um aspecto de velhinha!


Que linda eras, o luar que o diga!

E eu compondo estes versos, tu a lê-los,

E ambos cismando na floresta amiga...


António Nobre, in 'Só'

15/07/09

Mil desempregados vigiam floresta



Correio da Manhã - 22 Junho 2009 - 00h30

Prevenção: Medidas de combate aos fogos

Mil desempregados vigiam floresta


Desempregado desde Fevereiro, Cláudio Fonte, de 32 anos, está desde o início do mês a trabalhar num posto de vigia no pinhal de Leiria, com a missão de detectar os fogos florestais logo à nascença e alertar as autoridades de Protecção Civil. É um dos mil desempregados contratados este Verão pela GNR, que lhes paga o almoço, a deslocação e 20 por cento do subsídio de desemprego.


No ano em que já arderam 16 227 hectares de floresta, entre povoamentos e matos, o que representa o quádruplo da área ardida em relação ao ano anterior (ver apoios), a GNR decidiu recrutar os vigilantes através dos centros de emprego, para dispor de uma 'maior oferta de candidatos' e ainda obter 'alguma poupança'.


A medida não foi bem aceite por alguns dos anteriores vigilantes, que 'já contavam com este emprego de Verão' e dizem ter 'um melhor conhecimento' do trabalho a desenvolver. 'Ainda não começou a época mais crítica e já reina a descoordenação, pois até dão alerta de chaminés de fábricas', disse um dos anteriores vigilantes, que pediu anonimato.


Os primeiros 140 vigilantes, que são responsáveis por 70 postos de vigia, começaram a trabalhar no início do mês e apenas entre as 11h00 e as 19h00. A partir de 1 de Julho estarão em funcionamento, 24 horas por dia, os 236 postos de vigia a cargo da GNR, aumentando para quase mil o número de vigilantes contratados para fazer este serviço.


Desde o início do mês, Cláudio Fonte ainda não detectou qualquer foco de incêndio, mas quando isso acontecer sabe o que fazer: 'Tenho uma mesa com monóculo que identifica o local, um PDA com um software que me dá as coordenadas e um rádio para comunicar com a central da Protecção Civil, que acciona os meios.'


O vigilante, que é solteiro, tem o 12º ano e reside na Praia de Vieira de em Leiria, aceitou este trabalho porque não gosta de 'estar parado'. 'Não vou fazer de desempregado carreira. Esta situação é temporária, até tomar um novo rumo.'


O agora vigilante Cláudio Fonte prestava assistência técnica numa empresa de componentes para moldes em plástico.


Dou os meus parabéns à GNR. Falta por os presos e os do "rendimento minimo" a fazer algo de útil.

E já agora quem não aceitar ... o melhor é ir para casa descansar...sem subsidio!!!!!!!!!



Meu País Desgraçado

Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas ...

Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?

Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.

E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.

Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!

Povo anêmico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!
Sebastião da Gama

10/07/09

Exaltação


Nela Vicente
Viver!... Beber o vento e o sol!... Erguer

Ao Céu os corações a palpitar!

Deus fez os nossos braços pra prender,

E a boca fez-se sangue pra beijar!


A chama, sempre rubra, ao alto, a arder!...

Asas sempre perdidas a pairar,

Mais alto para as estrelas desprender!...

A glória!... A fama!... O orgulho de criar!...


Da vida tenho o mel e tenho os travos

No lago dos meus olhos de violetas,

Nos meus beijos extáticos, pagãos!...


Trago na boca o coração dos cravos!

Boémios, vagabundos, e poetas:

Como eu sou vossa Irmã, ó meus Irmãos!...

Florbela Espanca

07/07/09

Férias em Portugal












As férias estão a chegar











Algumas fotos das férias dos anos anteriores em Espanha

06/07/09

Boa semana

Glitter Para Orkut

Boa Semana - Glitter Para Orkut

05/07/09

Musica Portuguesa para o fim de semana

03/07/09

Homenagem a Michael Jackson

02/07/09

Alexandre O'Neil

Gaivota

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O'Neil - Poeta: 1924 - 1986

01/07/09

A Terra


(Van Gogh)
A Terra
Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação! Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
Miguel Torga