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28/01/10



Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!

Ser outro constantemente,

Por a alma não ter raízes

De viver de ver somente!


Não pertencer nem a mim!

Ir em frente, ir a seguir

A ausência de ter um fim,

E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.

Mas faço-o sem ter de meu

Mais que o sonho da passagem.

O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

26/01/10

Passa uma nuvem pelo sol



Passa uma nuvem pelo sol

Passa uma pena por quem vê.

A alma é como um girassol:

Vira-se ao que não está ao pé.


Passou a nuvem; o sol volta.

A alegria girassolou.

Pendão latente de revolta,

Que hora maligna te enrolou?

Fernando Pessoa
14-8-1933

22/01/10

Bom fim de semana

21/01/10

A Mão Posta Sobre a Mesa



A MÃO POSTA sobre a mesa,

A mão abstrata, esquecida,

Imagem da minha vida...

A mão que pus sobre a mesa

Para mim mesmo é surpresa.

Porque a mão é o que temos

Ou define quem não somos.

Com ela aquilo que fazemos

[...]
Fernando Pessoa

19/01/10

Lá fora onde árvores são


Lá fora onde árvores são

O que se mexe a parar

Não vejo nada senão,

Depois das árvores, o mar.


É azul intensamente,

Salpicado de luzir,

E tem na onda indolente

Um suspirar de dormir.


Mas nem durmo eu nem o mar,

Ambos nós, no dia brando,

E ele sossega a avançar

E eu não penso e estou pensando.


Fernando Pessoa

Poesias Inéditas

18/01/10

Pobre Velha Música!

Pobre velha música!

Não sei por que agrado,

Enche-se de lágrimas

Meu olhar parado.



Recordo outro ouvir-te,

Não sei se te ouvi

Nessa minha infância

Que me lembra em ti.



Com que ânsia tão raiva

Quero aquele outrora!

E eu era feliz? Não sei:

Fui-o outrora agora.



Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

15/01/10

Do meio da rua



Do meio da rua

(Que é, aliás, o infinito)

Um pregão flutua,

Música num grito...


Como se no braço

Me tocasse alguém

Viro-me num espaço

Que o espaço não tem.


Outrora em criança

O mesmo pregão...

Não lembres... Descansa,

Dorme, coração !...

(Fernando Pessoa)

13/01/10

Ilumina-se a Igreja por Dentro da Chuva



Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,

E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...


Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,

E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro ...


O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes

Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...


Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça

E sente-se chiar a água no facto de haver coro...


A missa é um automóvel que passa

Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste ...

Súbito vento sacode em esplendor maior

A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo

Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe

Com o som de rodas de automóvel...


E apagam-se as luzes da igreja

Na chuva que cessa ...

(Fernando Pessoa )

11/01/10

Quando Está Frio


Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno -
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar -
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.
(Alberto Caeiro)

07/01/10

O Sol que doura as neves afastadas



O sol que doura as neves afastadas

No inútil cume de altos montes quedos

Faz no vale luzir rios e estradas

E torna as verdes árvores brinquedos...


Tudo é pequeno, salvo o cume frio,

De onde quem pensa que do alto não vê

Vê tudo mínimo, num desvario

De quem da altura olhe quanto é.

(Fernando Pessoa)

05/01/10

Isto


Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.


Tudo o que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.


Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

(Fernando Pessoa
Cancioneiro)

04/01/10

Feliz 2010



Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos.