31/12/08
30/12/08
Recomeça 2009
Se puderes
E, nunca saciado,
Miguel Torga
17/12/08
Lágrimas ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
16/12/08
Quando a triteza nos invade ...
A tristeza levou-me um dia
para sua moradia
escuros eram seus corredores
de pedra negra seu chão
negra,tão negra...que escureceu meu coração
paredes de branco mármore
frias...tão frias como a morte
pendurado,um relógio do tempo
marcava minha sorte
a tristeza levou-me um dia
para sua companhia
mostrou-me terras e gentes,
sítios por onde eu divagara
utopias onde me agarrara
a tristeza levou-me um dia
por sua própria mão, chamando-me á razão
morreu nesse dia
minha maior alegria...a fantasia!
Fátima Rodrigues
11/12/08
Corpo cansado
Com os braços prostrados sobre o ventre
Assim permaneço
Sem que o tempo ocupe espaço
Os olhos deixo-os seguirem o seu rumo
Como a folhagem de Outono também eles caem e se fecham
Não sei se acordada ou a dormir
Reclino a cabeça deixando os cabelos caídos pelo chão
Sonho
Viajo para uma noite de Verão em que o horizonte te traz
E contigo vem toda a vontade e loucura
Que tornou a distância vazia
Ou a estrada um paralelo que se cruza
Contigo vieram histórias e narrativas
Dúvidas que metamorfoseamos em verdade
Mãos que se tornam asas
E gestos incessantes que depravam, viciam e seduzem
Contigo veio também o destempero
De querer consumir num momento
Tudo aquilo que não cabe numa vida.
Madalena Palma
10/12/08
Alma serena ...
Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.
Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.
Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.
Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.
Fernanda de Castro, in "Ronda das Horas Lentas"
09/12/08
04/12/08
O Natal está a chegar...
POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrela a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem;da morte, apenas Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
02/12/08
Ai que prazer...
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por Dom Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca....
Fernando Pessoa