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28/02/10

“NÃO DESTRUAM OS LIVROS!”

PETIÇÃO MIL: “NÃO DESTRUAM OS LIVROS!”

http://www.gopetition.com/online/28707.html

27/02/10

Tudo por um beijo




Eu não sei bem quem tu és
Sei que gosto dos teus pés
Do teu olhar atrevido

Tu baralhas-me a razão
Invades-me o coração
E eu ando um pouco perdido

Troco tudo por um beijo
Mais vale morder um desejo
Que ter toda a fama do mundo

Troco tudo por um beijo
Mais vale morder um desejo
Que todo o dinheiro do mundo

Adivinha onde eu cheguei
Desde o tempo em que roubei a tua privacidade
Fiz de ti lírio quebrado
Fera de gesto acossado, vendi a tua ansiedade

Troco tudo por um beijo
Mais vale morder um desejo
Que ter toda a fama do mundo

Troco tudo por um beijo
Mais vale morder um desejo
Que todo o dinheiro do mundo

E agora que estamos sós, vamos ser apenas nós
Dar a volta ao argumento
Vamos fugir em segredo
Sumir por entre o enredo, soltar o cabelo ao vento

Troco tudo por um beijo
Mais vale morder um desejo
Que ter toda a fama do mundo

Troco tudo por um beijo
Mais vale morder um desejo
Que todo o dinheiro de mundo

Musica da banda sonora do filme: A bela e o paparazzo.

26/02/10

Lisboa



Lisboa com suas casas

De várias cores,

Lisboa com suas casas

De várias cores,

Lisboa com suas casas

De várias cores ...

À força de diferente, isto é monótono.

Como à força de sentir, fico só a pensar.


Se, de noite, deitado mas desperto,

Na lucidez inútil de não poder dormir,

Quero imaginar qualquer coisa

E surge sempre outra (porque há sono,

E, porque há sono, um bocado de sonho),

Quero alongar a vista com que imagino

Por grandes palmares fantásticos,

Mas não vejo mais,

Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,

Que Lisboa com suas casas

De várias cores.


Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.

A força de monótono, é diferente.

E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.


Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,

Lisboa com suas casas

De várias cores.

(Álvaro de Campos)

25/02/10

Há no firmamento



Há no firmamento

Um frio lunar.

Um vento nevoento

Vem de ver o mar.


Quase maresia

A hora interroga,

E uma angústia fria

Indistinta voga.


Não sei o que faça,

Não sei o que penso,

O frio não passa

E o tédio é imenso.


Não tenho sentido,

Alma ou intenção...

'Stou no meu olvido...

Dorme, coração...

(Fernando Pessoa)

23/02/10

Bate a luz no cimo...




Bate a luz no cimo

Da montanha, vê...

Sem querer eu cismo

Mas não sei em quê....


Não sei que perdi

Ou que não achei...

Vida que vivi,

Que mal eu a amei !...


Hoje quero tanto

Que o não posso ter,

De manhã há o pranto

E ao anoitecer...


Tomara eu ter jeito

Para ser feliz...

Como o mundo é estreito,

E o pouco que eu quis !


Vai morrendo a luz

No alto da montanha...

Como um rio a flux

A minha alma banha,


Mas não me acarinha,

Não me acalma nada...

Pobre criancinha

Perdida na estrada !...

(Fernando Pessoa)
(Cancioneiro)

22/02/10

Árvore verde



Árvore verde,

Meu pensamento

Em ti se perde.

Ver é dormir

Neste momento.


Que bom não ser

'Stando acordado !

Também em mim enverdecer

Em folhas dado !


Tremulamente

Sentir no corpo

Brisa na alma !

Não ser quem sente,

Mas tem a calma.


Eu tinha um sonho

Que me encantava.

Se a manhã vinha,

Como eu a odiava !


Volvia a noite,

E o sonho a mim.

Era o meu lar,

Minha alma afim.


Depois perdi-o.

Lembro ? Quem dera !

Se eu nunca soube

O que ele era.

(Fernando Pessoa)

18/02/10

Entre o sono e sonho



Entre mim e o que em mim

É o quem eu me suponho

Corre um rio sem fim.


Passou por outras margens,

Diversas mais além,

Naquelas várias viagens

Que todo o rio tem.


Chegou onde hoje habito

A casa que hoje sou.

Passa, se eu me medito;

Se desperto, passou.


E quem me sinto e morre

No que me liga a mim

Dorme onde o rio corre -

Esse rio sem fim.

(Fernando Pessoa)

12/02/10

Tenho uma grande constipação



TENHO

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.

Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.

(Álvaro de Campos)

09/02/10

Vinha elegante, depressa



Vinha elegante, depressa,

Sem pressa e com um sorriso.

E eu, que sinto co a cabeça,

Fiz logo o poema preciso.


No poema não falo dela

Nem como, adulta menina,

Virava a esquina daquela

Rua que é a eterna esquina...


No poema falo do mar,

Descrevo a onda e a mágoa.

Relê-lo faz-me lembrar

Da esquina dura - ou da água.

Fernando Pessoa (14-8-1932)

08/02/10

A Fada das Crianças



Do seu longínquo reino cor-de-rosa


Do seu longínquo reino cor-de-rosa,

Voando pela noite silenciosa,

A fada das crianças vem, luzindo.

Papoulas a coroam, e , cobrindo

Seu corpo todo, a tornam misteriosa.


À criança que dorme chega leve,

E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,

Os seus cabelos de ouro acaricia -

E sonhos lindos, como ninguém teve,

A sentir a criança principia.


E todos os brinquedos se transformam

Em coisas vivas, e um cortejo formam:

Cavalos e soldados e bonecas,

Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam,

E palhaços que tocam em rabecas...


E há figuras pequenas e engraçadas

Que brincam e dão saltos e passadas...

Mas vem o dia, e, leve e graciosa,

Pé ante pé, volta a melhor das fadas

Ao seu longínquo reino cor-de-rosa.

(Fernando Pessoa)

05/02/10

Feliz dia para quem é



Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia !

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos !

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter !

(Fernando Pessoa)

04/02/10

Paisagens, quero-as comigo


Paisagens, quero-as comigo.
Paisagens, quadros que são...
Ondular louro do trigo,
Faróis de sóis que sigo,
Céu mau, juncos, solidão...

Umas pela mão de Deus,
Outras pelas mãos das fadas,
Outras por acasos meus,
Outras por lembranças dadas...

Paisagens... Recordações,
Porque até o que se vê
Com primeiras impressões
Algures foi o que é,
No ciclo das sensações.

Paisagens... Enfim, o teor
Da que está aqui é a rua
Onde ao sol bom do torpor
Que na alma se me insinua
Não vejo nada melhor.
Fernando Pessoa

03/02/10

Rosa Lobato de Faria



Pequenas palavras

De todas as palavras escolhi água,

porque lágrima, chuva, porque mar

porque saliva, bátega, nascente

porque rio, porque sede, porque fonte.

De todas as palavras escolhi dar.


De todas as palavras escolhi flor

porque terra, papoila, cor, semente

porque rosa, recado, porque pele

porque pétala, pólen, porque vento.

De todas as palavras escolhi mel.


De todas as palavras escolhi voz

porque cantiga, riso, porque amor

porque partilha, boca, porque nós

porque segredo, água, mel e flor.


E porque poesia e porque adeus

de todas as palavras escolhi dor.


Rosa Lobato de Faria

Locutora, actriz, guionista, poetisa, escritora: as mil faces de uma mulher livre.

Rosa Lobato de Faria morreu a 2 de Fevereiro de 2010 (ontem), quase 78 anos depois de ter nascido (Abril de 1932, Lisboa).

01/02/10

É Noite



É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância

Brilha a luz duma janela.

Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça.

É curioso que toda a vida do indivíduo que ali mora, e que não sei quem é,

Atrai-me só por essa luz vista de longe.

Sem dúvida que a vida dele é real e ele tem cara, gestos, família e profissão.


Mas agora só me importa a luz da janela dele.

Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido,

A luz é a realidade imediata para mim.

Eu nunca passo para além da realidade imediata.

Para além da realidade imediata não há nada.

Se eu, de onde estou, só veio aquela luz,

Em relação à distância onde estou há só aquela luz.

O homem e a família dele são reais do lado de lá da janela.

Eu estou do lado de cá, a uma grande distância.

A luz apagou-se.

Que me importa que o homem continue a existir?

(Alberto Caeiro)