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02/12/09

Brincava a criança



Brincava a criança


Brincava a criança

Com um carro de bois.

Sentiu-se brincado

E disse, eu sou dois !


Há um brincar

E há outro a saber,

Um vê-me a brincar

E outro vê-me a ver.


Estou atrás de mim

Mas se volto a cabeça

Não era o que eu qu'ria

A volta só é essa...


O outro menino

Não tem pés nem mãos

Nem é pequenino

Não tem mãe ou irmãos.


E havia comigo

Por trás de onde eu estou,

Mas se volto a cabeça

Já não sei o que sou.


E o tal que eu cá tenho

E sente comigo,

Nem pai, nem padrinho,

Nem corpo ou amigo,


Tem alma cá dentro

'Stá a ver-me sem ver,

E o carro de bois

Começa a parecer.


Fernando Pessoa Poesias Inéditas

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